Culturalmente vivemos o caos, ainda assim, estamos continuamente em busca de novas respostas, tanto idiosincrásicas quanto filosóficas e, porque não dizer, universais para tudo que ocorre ao nosso derredor. Torna-se esperançoso asseverar ao que nos remete aos sonhos eternizados e, principalmente, àqueles que se escancaram diante de nós. O tempo de buscar novos horizontes culturais é próprio do ser humano e quando temos a certeza que ousarmos arriscar é prudente, então estamos aptos a realizar este tão sonhado desiderato.
Ainda que tenhamos que viver infortúnios, mesuras acabrunhadas e sermos meticulosos, vivemos num labirinto cultural – em galerias subterrâneas que se entrecruzam como um quebra-cabeça numa infinidade de peças que por vezes a curiosidade escancara e descortina através de novos horizontes, quando não, acendendo a chama do entusiasmo para procurá-los.
Muito me envaidece o comportamento de outrora. A riqueza cultural era fulgurante, fervia elegantemente entre pensadores. Efetivamente, não refiro-me ao saudosismo – não, busco a nobreza gestual, as notas musicais melódicas e ao delicado sabor do quindim que tive a honra e o prazer de usufruir. Aliás, é de uma elegância meritória tão especial que me fascina assistir a todos os filmes de época, dramas e enredos que me remetem a diálogos primorosos e aos tempos idos.
Tornei-me, exaustivamente, saudosista, excêntrico e apaixonado pelo refinamento e toda formalidade dos séculos passados, da genuína padronização e apreço pela elegância. Época honrosa onde a educação estava sempre coroando e protagonizando os encontros mais soberbos. Cresci em tempos áureos, onde o meu primeiro vislumbre ocorreu envolto no mais nobre romantismo. Efetivamente, sou um homem de extrema sorte. Criado em uma família exemplar , proba e austera no que pertine a princípios e valores morais irretocáveis.
Fui forjado captando, todos os dias da minha existência, as músicas que a minha saudosa Vó Cordélia Angélica Tourinho Curvello, (D. Lady), tocava ao piano. No meu íntimo as escuto até hoje… Se fizermos um paralelo com os tempos de agora, o sofrimento me toma completamente. Falo isso porque tive o privilégio de usufruir, amiúde, de todas as benesses que a educação respeitosa, orientada pelo iluminismo cultural – me trouxeram. Quanta saudade. Ela pregava um amor tão sincero que apenas recordando e escrevendo me emociono. Quanta elegância, virtude e cordialidade ela possuía. Era uma Matriarca fenomenal. Viver próximo a ela, me fez despertar para a nobreza das atitudes, a elegância postural e o comportamento irretocável. Ela era, efetivamente, uma Lady.
Atualmente, me traz sofrimento ouvir as letras das pseudo músicas – são canções histéricas e sem nenhum conteúdo decente – culturalmente desidrata os mais preciosos sentidos da nossa frívola empatia auditiva. Sofro, também, por ser de uma geração que esteve envolvido em enredos teatrais e livros belíssimos, de autores inenarráveis e que, ainda hoje, servem de consolo em razão da depravação obsequiada pelo afundamento e destruição da nossa esquecida cultura. É visível que a ignorância, muitas vezes, é o único aprendizado cultural que muitos têm. O que nos é oferecido hoje, salvo pouquíssimas exceções, é lastimável conviver.
A cultura histórica tem o objetivo de manter viva a consciência que a sociedade tem do próprio passado. Os cafajestes desconhecem limites, impõem letras musicais deploráveis repletas de lascívia e despudor, se arvoraram de uma época belíssima e repleta de valores incomensuráveis, talvez o resgate já não seja mais possível. A nossa cultura poética vem sendo vilipendiada a olhos vistos!
Sinceramente? O sabor das coisas habituais, hoje, me são totalmente desagradáveis. Há momentos em que sinto como se estivesse sendo execrado vivo à sombra do meu futuro, haja vista terem nos tirado o passado. Desnudaram as nossas recordações mais sensitivas. Somos grandes, quando somos pequenos, românticos e poéticos ou quando estamos atentos e confiantes na eloquência cultural. O que esperar portanto, do nosso tão combalido futuro cultural? Fica a reflexão.
Por André Curvello – Advogado e Colaborador do Liberdade de Imprensa.