Além da reviravolta na eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) pode ter um fator extra para se preocupar. Isso porque faz tempo que um presidente da Câmara não consegue se reeleger.
O último que conseguiu mais um mandato depois de chefiar a Câmara Baixa foi Marco Maia, do PT do Rio Grande do Sul, entre dezembro de 2010 e fevereiro de 2013. Nas eleições de 2014 ele conseguiu manter a cadeira na Casa. De lá pra cá, outros quatro deputados que passaram pela presidência e não obtiveram sucesso nas urnas ou não puderam disputar as eleições subsequentes.
Presidente entre fevereiro de 2013 e fevereiro de 2015, Henrique Eduardo Alves (PMDB), foi impedido de concorrer ao pleito de 2018. Em junho de 2017, foi preventivamente preso pela Polícia Federal por fraude na construção do estádio Arena das Dunas. Em maio do ano seguinte foi para prisão domiciliar, e depois encaminhado pela Justiça para responder o processo em liberdade. Nas eleições de 2022, voltou a ser candidato a deputado federal, desta vez, filiado ao PSB. No entanto, recebeu menos de 12 mil votos e não conseguiu ser eleito.
O presidente seguinte foi Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Um dos principais articuladores do impeachment de Dilma Rousseff (PT), o deputado federal carioca ficou pouco mais de um ano na liderança da Casa, que durou entre fevereiro de 2015 e maio de 2016.
Cunha renunciou à presidência e ao mandato após investigações da Operação Lava Jato revelarem seu envolvimento em casos de corrupção. Por impedimento da Justiça não concorreu nas eleições em 2018.
Em seu lugar entrou Waldir Maranhão (PP-AL), assumindo um mandato tampão até julho de 2016. Ele foi candidato a deputado federal em 2018 pelo PSDB e em 2022 pelo PDT, mas não obteve êxito.
O presidente seguinte foi Rodrigo Maia (DEM-RJ). Em julho de 2016, Maia foi eleito em uma eleição especial por conta da renúncia de Eduardo Cunha. O antecessor de Lira ainda teve duas reeleições: a primeira em fevereiro de 2017 e a segunda no mesmo mês de 2019. Seu reinado durou até o início dos trabalhos legislativos de 2021, quando não poderia mais disputar um novo mandato.
Cenário diferente
Para o cientista político Cláudio André, Arthur Lira tem plenas condições de quebrar com a maldição dos últimos presidentes da Câmara dos Deputados. Ao Portal A TARDE, o especialista avaliou que por conta das emendas parlamentares e autonomia conquistada nos últimos anos, não seria exagero dizer que exista a Câmara antes e depois de Lira.
“É uma nova era.Temos um Congresso mais fortalecido diante do orçamento secreto, e a questão do controle das emendas. O próprio valor destinado para as emendas tem crescido muito, então os presidentes da Câmara estão hiper fortalecidos nessa agenda destinada ao orçamento”, iniciou o cientista político.
Para Cláudio André, a turbulência política vivida no país nos últimos anos fragmentou as forças no Legislativo nacional e a disputa está sendo mais arrefecida que nas eleições anteriores.
“Partidos médios passaram a ter uma bancada que tem um tamanho relevante. As bancada do PSD, do Republicanos, do próprio PT, e do PL, são exemplos disso. Essas forças estão de alguma forma tentando influenciar o jogo de quem vai ser o próximo presidente, então passa a ser uma estratégia que já não cabe somente de ser o presidente de Lira. Então, o próximo presidente não vai ser escolhido para representar a Lira, mas um grupo mais amplo”, analisou.
Baianos com chances
Na avaliação de Cláudio André, apesar da reviravolta com a entrada de Hugo Motta (Republicanos-PB) na disputa e o consequente favoritismo por conta do provável apoio de Arthur Lira à sua candidatura, ainda existem condições dos baianos Elmar Nascimento (União Brasil) e Antônio Brito (PSD) ganharem a eleição.
“Diante do desenrolar dos últimos dias, é possível a gente perceber que eles estão buscando sobreviver diante de acordos que consigam de alguma forma colocar o nome no páreo para além da relação direta que o presidente Lira vai construir. Então é isso que a gente vai precisar acompanhar”, disse.
Ainda segundo o especialista, uma definição só deve ser anunciada em outubro, após as eleições municipais. “Essas tratativas ganharão mais contornos mesmo após a eleição municipal. Eu penso que os próximos 20 dias serão tomados por esse cuidado da relação dos deputados com os prefeitos e penso que a partir de outubro é que as articulações devem ganhar um pouco mais de força”, afirmou.