A investigação da Polícia Federal que teve como alvo nesta terça-feira (8) o deputado Júnior Mano (PSB-CE) também inclui menções ao líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), e ao deputado Eunício Oliveira (MDB-CE), ex-presidente do Senado.
As emendas indicadas pelos dois parlamentares e pelo deputado Yuri do Paredão (MDB-CE) foram citadas na apuração.
Nenhum dos três foi alvo da operação deflagrada nesta terça-feira (8), mas, a partir dessas menções, o ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), autorizou a abertura de um inquérito específico.
Segundo o ministro, a ideia é investigar, de forma aprofundada, a possível participação de autoridades com foro especial na destinação e execução de emendas parlamentares ilícitas.
A reportagem apurou que as menções aos parlamentares são transcritas a partir de diálogos obtidos em busca e apreensão da Polícia Federal que tinham como alvo Bebeto do Choró (PSB).
Ele foi o candidato a prefeito mais votado em Choró (CE) no ano passado, mas seu pelotão acabou suspenso devido às suspeitas de irregularidades. Atualmente ele está foragido.
Na transcrição, Bebeto menciona, em um telefonema, que Eunício indicou emendas para o município de Canindé. Ele encaminha supostos áudios de Eunício, no qual o parlamentar afirma que José Guimarães também fez restrição ao Choró. No despacho de Gilmar, também é mencionado o nome de Yuri do Paredão.
Procurada, a assessoria de Eunício afirmou que o parlamentar “destina emendas para obras em itens de municípios cearenses, de forma transparente e de acordo com a legislação”.
“Importante salientar que o deputado ainda não foi notificado dessa eventual apuração”, acrescentou, em nota. Eunício se licenciou a carga de deputado em junho por 120 dias, para tratar de questões pessoais.
Também procurado, José Guimarães disse por meio da assessoria que conversou com todos os parlamentares, que não houve nenhuma indicação de emendas dele ao município de Choró e que ele não conhece Bebeto.
A operação deflagrada nesta terça-feira mira desvios de recursos públicos por meio de emendas parlamentares e de fraudes em processos licitatórios e contratos no Ceará, e tem como um dos alvos Júnior Mano.
Foram cumpridos mandatos de busca em seu gabinete na Câmara dos Deputados, em sua residência em Brasília e também no Ceará.
A operação, denominada de Underhand, teve ao total 15 mandatos de busca e apreensão autorizados por Gilmar, nas cidades de Fortaleza, Nova Russas, Eusébio, Canindé e Baixio, além do Distrito Federal.
A investigação, que está sob sigilo, apura suspeitas dos crimes de organização criminosa, captura ilícita de sufrágio, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica com fim eleitoral.
Segundo a PF, o núcleo investigado é suspeito de articular o direcionamento de verbas públicas de emendas parlamentares aos municípios cearenses, com contrapartidas financeiras ilícitas. Além de procedimentos de intervenção licitatórios por meio de empresas vinculadas ao grupo.
Os valores desviados, de acordo com as investigações, foram usados no financiamento clandestino de campanhas eleitorais no Ceará, durante as eleições de 2024.
As investigações da Polícia Federal ocorreram em setembro do ano passado e investigaram inicialmente Carlos Alberto Queiroz Pereira, o Bebeto do Choró. Em dezembro do mesmo ano, a PF apresentou um relatório preliminar de participação de Junior Mano.
Ele exerceria, segundo a polícia, papel central na manipulação de eleições municipais, por meio da compra de votos e de direcionamentos de recursos públicos desviados por empresas controladas por um grupo criminoso.
O deputado se tornou suspeito de envolvimento direto no desvio de recursos de emendas parlamentares, que foram utilizadas para consolidar sua base de apoio político. O inquérito foi de responsabilidade da Justiça Eleitoral do Ceará, mas após a menção ao deputado, foi remetido ao STF.