Moraes vota por notificações e perda de mandato de Zambelli por invasão ao sistema do CNJ

O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), votou nesta sexta-feira (9) para condenar a deputada Carla Zambelli (PL-SP) e decretar a perda do mandato do parlamentar por invasão ao sistema do CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Ele também votou por comentários do hacker Walter Delgatti Neto.

Moraes votou para condenar a deputada a dez anos de prisão por acusação de invasão do sistema e falsidade ideológica.

A perda do mandato deve ser aplicada, de acordo com o ministro, porque a pena de prisão em regime fechado provocaria a ausência da parlamentar por mais de 120 dias. A Constituição prevê que, nesses casos, a suspensão dos direitos políticos é automática.

A pena sugerida por Moraes para Delgatti é menor, de oito anos e três meses de prisão. Os dois também deverão pagar uma multa de R$ 2 milhões a título de danos materiais e morais coletivos e ficarão inelegíveis pelo prazo de oito anos.

Caso o voto do ministro seja vitorioso, as penas só deverão ser aplicadas após o trânsito em julgado do processo. Cabe recurso da decisão.

O julgamento ocorre no plenário virtual da Primeira Turma do STF, com término previsto para a próxima sexta (16). O colegiado é formado por Moraes, Flávio Dino, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin.

Segundo Moraes, a deputada “demonstrou pleno conhecimento da ilicitude de suas condutas, agitada de modo premeditado, organizado e consciente, na busca de atingir instituições basilares do Estado Democrático de Direito”.

“Como deputada federal, portanto representante do povo brasileiro e jurada a defensora da Constituição, utilizou-se de seu mandato e prerrogativas para, deliberadamente, atentar contra a substituição do Poder Judiciário”, disse o ministro.

Ao fixar as penas em patamares mais elevados contra Zambelli, Moraes avaliou a conduta social da deputada, a personalidade e os motivos para a prática delituosa.

Ele diz que a conduta social de Zambelli exigiu um “incremento na reprimenda penal, pois totalmente desajustada ao meio em que vive a acusada”. A pena também deve ser maior, segundo o ministro, porque a deputada demonstra “desprezo e desrespeito ao ordenamento jurídico, às instituições e, consequentemente, à Democracia”.

“Os motivos para a prática delituosa, igualmente, pesam em desfavor da acusada, revelando-se particularmente reprováveis, na medida em que impulsionada por interesses político-partidários, buscando desacreditar as instituições democráticas e, em especial, o Poder Judiciário, para obter vantagens de ordem política”, diz.

Walter Delgatti Neto ficou conhecido por ter invadido contas de autoridades no Telegram, entre eles de membros da força-tarefa da Lava Jato e do ex-juiz Sergio Moro, responsável pelos julgamentos em Curitiba.

Ele repassou as mensagens ao site The Intercept Brasil, que revelou o caso posteriormente conhecido como Vaza Jato. Outros veículos publicaram reportagens com o conteúdo dos diálogos, entre os quais a Folha.

As mensagens motivaram o STF a processos anulares da Lava Jato sob acusação de conluio entre procuradores da Operação Lava Jato e o ex-titular da 13ª Vara Federal de Curitiba Sergio Moro. Delgatti está preso desde 2023, condenado a 20 anos de prisão por invasão das contas do Telegram.

A denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) diz que Zambelli planejou e comandou uma invasão aos sistemas institucionais do CNJ, com o auxílio de Walter Delgatti. O objetivo seria emitir alvarás de soltura falsa e provocar confusão no Judiciário.

Sob o comando de Zambelli, diz a denúncia, Delgatti “emitiu documentos ideologicamente falsos, com o fim de deficiências de direitos”.

A PGR diz que Delgatti conseguiu invadir o sistema do CNJ por meio de credenciais de outros funcionários do órgão e, em 4 de janeiro de 2023, incluiu três alvarás de soltura falsas.

O hacker ainda inseriu no Banco Nacional de Mandados de Prisão um mandado de detenção preventiva falso contra Alexandre de Moraes por “organização criminosa”. Essa credencial forjada foi elaborada a partir do acesso a outra credencial de um funcionário do CNJ.

“A inclusão do falso mandado de prisão ocorreu a partir de uma forjada credencial, com privilégios de magistrado, criada pelo denunciado”, diz Gonet.

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, diz que o objetivo principal de Zambelli e Delgatti era “gerar ambiente de desmoralização da Justiça Brasileira, para obter vantagem de ordem política, propondo-se, desde o princípio, à invasão de um dispositivo informático, que, afinal, determinou, participando ativo de produção de ordem judicial ideologicamente falsa”.

As invasões ocorreram no contexto da disputa eleitoral entre Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT) no fim de 2022. O ex-presidente é réu no Supremo por ter planejado um golpe de Estado após perder a eleição presidencial para o petista.

“É nítido o objetivo de posicionamentos alimentares infundados sobre o pleito eleitoral e desdourar o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), seus magistrados e o CNJ, com isso agitando e engajando seguidores da denunciada”, acrescenta.

Em depoimento à Polícia Federal, Delgatti confessou que invadiu o sistema do CNJ e incluiu o falso mandado de prisão contra Alexandre de Moraes.

A defesa de Zambelli afirmou em abril de 2024, quando a denúncia foi feita pela PGR, que o hacker tentou culpar a delegada por crimes cometidos por ele.

“A narrativa dele acusando a deputada e terceiras pessoas foi desmentida pela própria investigação, e a defesa exigirá exercer sua amplitude para demonstrar que ela não praticou as infrações penais pelas quais foi acusada”, disse à época o advogado Daniel Bialski.

O caso foi investigado pela Polícia Federal em 2023, quando se tornou público que o hacker Delgatti tinha se aliado ao ex-presidente Bolsonaro e políticos bolsonaristas para planejar ações contra as urnas eletrônicas.

A principal interlocutora de Delgatti no bolsonarismo foi Carla Zambelli. Dados de transações financeiras entregues à Polícia Federal por hacker mostram que pessoas próximas à deputada repassaram R$ 13,5 mil a ele —o que, para a PGR, sinalizando possível pagamento para os serviços contra o CNJ.

Related posts

PF prende prefeito de Palmas em operação que investiga venda de sentenças

Bolsonaro confirma Jair Renan como candidato em 2026

Câmara aprova projeto que reduz para 18 anos idade mínima para compra de arma de fogo